“Não tive tempo para ter medo”
CARLOS MARIGHELLA – HERÓI DO POVO BRASILEIRO
Por Roberto Mansilla
(Mestre em História – UFF e Professor de História da Rede Municipal do Rio de Janeiro)
Carlos Marighella, assassinado há 40 anos (04.11.1969), foi quem melhor encarnou a resistência à ditadura militar que pela coerção governou o Brasil durante 21 anos (1964-1985).
A história não é contemporânea de si mesma. Pela ótica da Lisboa quinhentista, o acidente de percurso das caravelas de Cabral representou uma descoberta. Segundo os índios pataxós de Monte Pascoal, significou uma invasão e, em seguida, um genocídio.
A história é também um jogo semântico. Embora os telejornais, hoje, pronunciem "guerrilheiros", onde antes diziam "terroristas"; "ditadura", onde antes falavam "governo"; "torturas", onde antes mencionavam "abusos"; o nome de Carlos Marighella ainda não se livrou da pronúncia clandestina. Há quem prefira silenciá-lo para não sentir-se questionado pelo que ele significa de firmeza de convicções e, sobretudo, idealismo centrado no direito de todos os brasileiros à dignidade e à justiça.
Marighella situa-se entre aqueles que, com seu sangue, escreveram as mais importantes páginas da história do Brasil: Zumbi, Sepé Tiaraju, Tiradentes, Cipriano Barata, Frei Caneca, Angelim, Antônio Conselheiro, Octavio Brandão, Luiz Carlos Prestes, Francisco Julião, Virgílio Gomes da Silva, Mario Alves, Carlos Lamarca, Apolônio de Carvalho e tantos outros. São nomes que ainda não saíram das sombras a que a elite insiste em relegar a nossa história. Em nossas escolas, e nos raros programas televisivos que se referem à história do Brasil, poucos conhecem a geografia semântica de termos como Palmares, Cabanagem, Canudos, Contestado, Farrapos, Praieira, Confederação do Equador, Coluna Prestes, Eldorado de Carajás.
Filho de imigrantes italianos, Marighella encontrou no Partido Comunista o esteio que lhe forjou o vigor combatente. Deputado federal constituinte, não se deixou cooptar por aqueles que, após a ditadura Vargas, buscaram um pacto político que não incluía os direitos econômicos das classes populares. Marighella não ambicionava o poder, mas o Brasil soberano, livre da submissão ao capital estrangeiro.
Por fidelidade a suas origens operárias, rompeu com o PCB para aderir ao primado da ação. Estava cansado de documentos e palavras, quando o momento exigia, como ainda hoje, mudanças radicais na estrutura social brasileira. Queria uma revolução. Porém, desde os anos 1930, a elite brasileira repete com insistência: "Façamos a revolução antes que o povo a faça". É o que se vê nesses supostos projetos contra a pobreza apadrinhados, em véspera de eleições, por aqueles que se situam entre os responsáveis pela escandalosa desigualdade social reinante no Brasil.
Uma nação ou uma pessoa que se envergonha de sua própria história corre o risco de perder raízes e identidade, qual colonizado que louva o colonizador e procura imitá-lo. A vida de Marighella foi um gesto de coragem ao dizer NÃO! ao terrorismo de Estado no Brasil. Quarenta anos depois de morto, ele prossegue desafiando a generosidade dos vivos, e apontando, para o nosso país, um caminho de futuro sem desigualdade social, exploração e concentração de renda nas mãos de uma minoria abastada.
Camarada Marighella, presente!
CARLOS MARIGHELLA – HERÓI DO POVO BRASILEIRO
Por Roberto Mansilla
(Mestre em História – UFF e Professor de História da Rede Municipal do Rio de Janeiro)
Carlos Marighella, assassinado há 40 anos (04.11.1969), foi quem melhor encarnou a resistência à ditadura militar que pela coerção governou o Brasil durante 21 anos (1964-1985).
A história não é contemporânea de si mesma. Pela ótica da Lisboa quinhentista, o acidente de percurso das caravelas de Cabral representou uma descoberta. Segundo os índios pataxós de Monte Pascoal, significou uma invasão e, em seguida, um genocídio.
A história é também um jogo semântico. Embora os telejornais, hoje, pronunciem "guerrilheiros", onde antes diziam "terroristas"; "ditadura", onde antes falavam "governo"; "torturas", onde antes mencionavam "abusos"; o nome de Carlos Marighella ainda não se livrou da pronúncia clandestina. Há quem prefira silenciá-lo para não sentir-se questionado pelo que ele significa de firmeza de convicções e, sobretudo, idealismo centrado no direito de todos os brasileiros à dignidade e à justiça.
Marighella situa-se entre aqueles que, com seu sangue, escreveram as mais importantes páginas da história do Brasil: Zumbi, Sepé Tiaraju, Tiradentes, Cipriano Barata, Frei Caneca, Angelim, Antônio Conselheiro, Octavio Brandão, Luiz Carlos Prestes, Francisco Julião, Virgílio Gomes da Silva, Mario Alves, Carlos Lamarca, Apolônio de Carvalho e tantos outros. São nomes que ainda não saíram das sombras a que a elite insiste em relegar a nossa história. Em nossas escolas, e nos raros programas televisivos que se referem à história do Brasil, poucos conhecem a geografia semântica de termos como Palmares, Cabanagem, Canudos, Contestado, Farrapos, Praieira, Confederação do Equador, Coluna Prestes, Eldorado de Carajás.
Filho de imigrantes italianos, Marighella encontrou no Partido Comunista o esteio que lhe forjou o vigor combatente. Deputado federal constituinte, não se deixou cooptar por aqueles que, após a ditadura Vargas, buscaram um pacto político que não incluía os direitos econômicos das classes populares. Marighella não ambicionava o poder, mas o Brasil soberano, livre da submissão ao capital estrangeiro.
Por fidelidade a suas origens operárias, rompeu com o PCB para aderir ao primado da ação. Estava cansado de documentos e palavras, quando o momento exigia, como ainda hoje, mudanças radicais na estrutura social brasileira. Queria uma revolução. Porém, desde os anos 1930, a elite brasileira repete com insistência: "Façamos a revolução antes que o povo a faça". É o que se vê nesses supostos projetos contra a pobreza apadrinhados, em véspera de eleições, por aqueles que se situam entre os responsáveis pela escandalosa desigualdade social reinante no Brasil.
Uma nação ou uma pessoa que se envergonha de sua própria história corre o risco de perder raízes e identidade, qual colonizado que louva o colonizador e procura imitá-lo. A vida de Marighella foi um gesto de coragem ao dizer NÃO! ao terrorismo de Estado no Brasil. Quarenta anos depois de morto, ele prossegue desafiando a generosidade dos vivos, e apontando, para o nosso país, um caminho de futuro sem desigualdade social, exploração e concentração de renda nas mãos de uma minoria abastada.
Camarada Marighella, presente!
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