Pronunciamento de Aton Fon, representando os companheiros do Comandante Carlos Marighella durante ato de entrega do Título de Cidadão
Paulistano, in memoriam, a seus familiares, no dia 4 de novembro de
2009.
Paulistano, in memoriam, a seus familiares, no dia 4 de novembro de
2009.
"Exmo. Sr. Vereador Ítalo Cardoso, DD. Presidente desta Sessão e
proponente desta homenagem a Carlos Marighella;
Companheira Clara Charf, companheira de vida do Comandante Carlos
Marighella, na pessoa de quem saúdo todos os companheiros e
companheiras presentes a este ato,
Há quarenta anos, num dia 4 de novembro, foi assassinado Carlos
Marighella. Parece-nos significativo que tanto tempo passado tantas
pessoas continuem se reunindo para saudar sua luta e seu exemplo.
Como nos parece significativo que mais uma vez essa reunião se faça em
torno do lema "MARIGHELLA VIVE!"
Afinal, o que leva tantas pessoas a seguirem reverenciando a memória
desse militante, desse dirigente revolucionário, reafirmando sua vida?
Frequentemente ouvimos, dos dias em que a vida de Marighella foi
roubada pela ditadura militar, que era um tempo heróico. Mas, se o era
porque nele o herói teve vida, foi também o tempo heróico que exigiu
sua heróica ação.
Pelas terras do Brasil, pelas ruas de São Paulo, Carlos Marighella
andou enfrentando ditaduras, enfrentando os inimigos do povo, os
inimigos do proletariado.
Mesmo quando o país viveu tempos de legalidade e constitucionalidade,
Marighella não deixou de enxergar a necessidade de seu heroísmo e
perseverou na dedicação à luta pelo socialismo, demonstrando com sua
vida e atitudes que sempre havia tempo, que sempre havia necessidade
de um Carlos Marighella.
Um Carlos que alertasse a esquerda para os riscos de confundir a
tática com a estratégia, e de cair nas armadilhas quer do reformismo,
quer do esquerdismo, dizendo em "A crise brasileira":
"Uma tática decorrente da estratégia revolucionária é por si mesma
revolucionária, o que nada tem a ver com sectarismo e esquerdismo.
Trata-se de levar as massas à luta contra a ditadura, e substituí-la,
por um governo efetivamente democrático. Os meios empregados são os
que as massas aceitam. Mas os comunistas devem dar exemplo do impulso
revolucionário, que não se obtém - evidentemente - baseando nossa luta
numa perspectiva pacífica."
Um Marighella que em momento algum baixasse a guarda ante o
imperialismo, reafirmando, na mesma obra, que:
"Com o mesmo sentido de falta de substância ideológica surgiu a falsa
tese da "nova tática do imperialismo". Segundo essa tese, o
imperialismo norte americano não estaria interessado em golpes e
ditadura. O golpe de primeiro de abril, inspirado e promovido pelos
Estados Unidos com o apoio em seus agentes internos e no fascismo
militar brasileiro, invalidou essa teoria, cujo principal resultado
foi deixar-nos desprevenidos e perplexos ante o golpe da direita." (A
Crise Brasileira)
Lembrava-nos ainda hoje e lembra-nos costumeiramente Clara Charf, sua
companheira de vida, que o Comandante sempre foi capaz de separar as
divergências políticas das lutas pessoais, o que lhe garantiu sempre
não apenas a discussão que enriquecia seu conhecimento e sua
militância, mas aquela ternura de que falava o Che que não se deve
perder quando mais se endureça. Isso porque nunca esqueceu ele que,
divergindo no campo dos lutadores do povo, identificamo-nos no
objetivo da libertação popular. E por isso, mesmo no momento de sua
ruptura com o PCB expressou veementemente:
"Embora existam dificuldades para a união das forças populares, elas
não podem ter o mesmo caráter das divergências que nos separam das
correntes políticas ligadas ao imperialismo." (Crítica às Teses do
Comitê Central)
Essa mesma busca e expressão de unidade, tinha-a clara quando à
aliança dos operários com os trabalhadores do campo,
“No esquema estratégico brasileiro o pedestal da ação do proletariado
é o trabalhador rural. A aliança dos proletários com os camponeses é a
pedra de toque da revolução brasileira. Não se pode fazer a luta pela
democracia e pelas reivindicações nacionalistas, separando uma e outra
da luta pela terra e pelos interesses das massas camponesas. É um erro
relegar para o momento da decisão da decisão estratégica o processo de
luta, visando a atrair a massa camponesa.”
E isso adquire especial relevância para nós hoje, quando as forças da
reação, as forças do latifúndio afiam suas lanças e suas flechas para
agredir o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, obrigando
todos nós a nos mobilizar em defesa dos trabalhadores do campo.
Do mesmo modo, Carlos foi Marighella quando buscou tenazmente a
superação dos sectarismos que separaram durante tanto tempo os
cristãos dos marxistas, ensinado que
“Não importa que os moços de hoje estejam filiados a correntes
filosóficas diversas. Aceitem ou não o primado da matéria e do reflexo
do ser sobre a consciência, militem no campo do materialismo ou nas
hostes do espiritualismo, como é o caso da plêiade de católicos
preocupados com a questão social, os jovens avançam em busca de uma
saída. O marxismo contemporâneo não poderá deixar de fasciná-los e
estimular-lhes o espírito criador. Com a audácia e o entusiasmo que
lhes são próprios, os jovens continuarão afluindo para o campo de
luta.” (Porque Resisti à Prisão)
Mas, se Carlos soube ser sempre Marighella, se soube sempre ser o
herói que o momento exigia isso se deveu a sua clara visão de que a
existências das condições objetivas para a luta revolucionária não
implicava necessariamente – é verdade – a existência da consciência
revolucionária no seio do povo. Mas essa mesma consciência, só a ação
dos próprios homens, dos próprios revolucionários, poderia trazê-la à
luz:
"A consciência revolucionária, todavia, não se adquire
espontaneamente. Na dialética marxista, quando se trata do fenômeno
social, um processo de desenvolvimento jamais se efetua por via
espontânea. A luta (não espontânea) é um fator imprescindível e
fundamental para que o processo de desenvolvimento chegue às últimas
conseqüências."
"Isto implica em atuar com firmeza onde quer que haja massas nos
sindicatos, nas organizações populares, feministas, estudantis,
camponesas e quaisquer outras. O objetivo de tal atuação é desencadear
e apoiar lutas e estimular a combatividade das massas." (A Crise
Brasileira)
Marighella vive!
Marighella vive porque seu sonho, sua aspiração, a aspiração de que
cesse a exploração do Brasil pelo Imperialismo, do proletariado pela
burguesia, do camponês pelo latifúndio e pelo agro-negócio, do homem
pelo homem, continua viva.
Mas o Comandante Carlos Marighella que homenageamos não vive no
retrato na parede, nem vive nas lembranças que guardamos.
Marighella vive nesses ensinamentos e em suas atitudes que conformaram
nossa herança.
Por isso, somente se soubermos corresponder às necessidades que a
história põe diante de nós, Marighella poderá seguir vivendo em nossas
atitudes as quais haverão de legar aos que virão na nossa esteira, na
esteira desses herdeiros de Marighella, a herança do mundo solidário.
Assim como Carlos Marighella soube, em seu tempo, resgatar o grito de
combate dos campos de Guararapes e das batalhas da Independência nos
campos do Recôncavo baiano – “Ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo
Brasil” -, saibamos nós também resgatar esse compromisso e essa
certeza de que haveremos de libertar nosso povo e nosso país:
Pátria Livre! Venceremos!"
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